Para construir a sólida fama de invencível nos ringues, a família Gracie sempre contou com alunos de alto nível que formavam sua chamada linha de frente. O primeiro escudeiro fiel que se tem registro desde os tempos de Hélio e Carlos Gracie é o cearense Pedro Hemetério. Famoso pela excelente guarda e pele facilidade com que pegava as costas dos adversários, Hemetério enfrentou grandes nomes da luta para defender o nome da família que, desde os 19 anos, adotou como sua. Hoje, aos 81 anos, 62 dedicados ao Jiu-Jitsu, Pedro Hemetério é uma verdadeira lenda do esporte. Dono de um dos maiores acervos do Jiu-Jitsu que se tem registro, o simpático mestre nos recebeu em sua academia-museu e nos ajudou a reviver uma parte esquecida da história da Arte Suave.
Quando Carlos Gracie esteve no Ceará - em 1943 para ministrar um curso para seis alunos escolhidos entre 77 candidatos - um garoto de 19 anos lhe chamou a atenção. Seu nome, Pedro Hemetério Araújo de Castro. A facilidade com que o garoto franzino, de pouco mais de 1,60m, aprendia novas técnicas impressionou o Gracie. A convivência com Carlos, e depois com os irmãos Hélio e Gastão, logo fez com que Hemetério passasse a fazer parte da família adotando o Jiu-Jitsu como ganha-pão. Quando Carlos Gracie foi chamado para dar aulas na Polícia Militar cearense, Hemetério foi nomeado seu auxiliar e, a partir daí, passou a ensinar Jiu-Jitsu na Marinha e Aeronáutica, além de dar aulas na sede do Ceará Esporte Clube.
Em 1951, Hemetério foi convidado por Hélio Gracie para morar no Rio e ajudá-lo a ministrar aulas. Treinando todos os dias com o mestre e refinando sua técnica, o habilidoso cearense logo se tranformou num dos mais respeitados alunos da Academia Gracie. Convivendo com a família, Hemetério teve a oportunidade de acompanhar de perto os primeiros rolamentos dos pequenos Rolls, Rorion e Rickson. Depois de quatro anos morando com Hélio, Hemetério voltou ao Ceará, mas logo foi convidado por outro membro da família, Gastão Gracie, para auxiliá-lo em sua nova academia em São Paulo. O convite foi aceito e Hemetério chegou à Terra da Garoa em 1956, de onde nunca mais saiu.
Nos quatro anos em que morou e trabalhou como auxiliar de Hélio Gracie no Rio, Pedro Hemetério foi, ao lado de Carlson Gracie, o piloto de teste mais requisitado pelo mestre. Vivendo entre o Rio e o Ceará, Hemetério encarou dezenas de desafiantes, de diversos pesos e modalidades, para provar a supremacia do Jiu-Jitsu Gracie. Um dos primeiros da lista foi o judoca japonês Akio Hyoshiara, que bateu aos 58 segundos nas mãos do Cabra da Peste de Hélio Gracie, devido a um arm-lock.
Para defender o nome de Carlos e Hélio, Hemetério chegou a lutar até contra George Gracie, irmão dos mestres. A luta foi dura, mas terminou com a vitória do cearense a 26min34s. Hemetério conta que o Gracie bateu quando ele estava montado com um estrangulamento encaixado, embora George negue que tenha batido devido ao golpe. Mas a pendenga não acabaria ali.
Acervo Pessoal Pedro Hemetério (Revista Tatame - by: Marcelo Alonso)